"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
Amir Klink

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Rio Branco, AC

A viagem (ou a saga)
Chegar ao Acre foi um parto. Eu juro que estava começando a acreditar na teoria de que aquele lugar não existia. Depois de 4 dias dentro de um barco, darem uma indireta de que eu e meu primo iriamos ser assaltados, chegar em Porto Velho quase noite e finalmente chegamos a rodoviárias sãos e salvos.

Minha mãe tinha falado da gente ir de avião mas.. se é para ir no perrengue vamos de perrengue de verdade. Pedimos duas passagens para Rio Branco, fomos informados do valor (já não lembro mais algo em torno de R$70), a hora do próximo ônibus e ai o dado Sr. atendente lembra-se de nos avisar que a estrada estava fechada. Por tanto, em determinado ponto teríamos que saltar do ônibus, atravessar o protesto a pé e um ônibus da empresa estaria do outro lado para nos levar até o tão esperado Acre. Ok. Não queríamos perrengue? Então tá.
Procuramos um lugar para comer perto da rodoviária, que não fosse muito trash. Afinal foram 4 dias comendo a mesma comida no barco. Queríamos carne, de verdade. No caminho reparamos em como a cidade é tensa. Nós dois passando na frente de empresas, fechadas, e os seguranças já olhavam estranho e colocavam a mão na arma presa na cintura. Sinistro.
Pedimos um bife extremamente suculento (ou era a falta que me fez ter essa impressão) e os nossos olhos começaram a arder. Certamente era culpa da poluição absurda daquela avenida. Jantamos muito felizes e voltamos para a rodoviária para começar a nossa jornada.
Ônibus adentro, tensão em saber que horas que iríamos parar, quanto teríamos que andar, como seria o tal protesto e etc. O ônibus parou e parece que todas as pessoas resolveram ir ao banheiro. Pequeno detalhe desconfortante: ninguém dava descarga e eu e meu primo estávamos bem perto do dito cujo. Eis que um sujeito que estava se encaminhando ao banheiro resolve puxar papo (leia-se dar em cima) da menina que estava saindo do banheiro. Eu diria que é o lugar ideal pra tal atitude. Essa primeira parada era só para pegar uma balsa e atravessar o rio. Mas rendeu boas risadas.



Nosso ônibus na BR-364 escura e sombria


A viagem continuou até uma festa de rua que lembrava uma festa junina, muitas barraquinhas, comidas, gente bêbada, fogueira e etc.”É até aqui que dá pra gente ir” avisou o motorista “ peguem as suas malas, atravessem o protesto que do outro lado terá um outro ônibus da empresa esperando por vocês". Então aquela FESTA era o tal PROTESTO. Ok, Tranqüilo. Lá vamos nós, que estávamos muito bem com as nossas mochilas. Fudida tava uma mãe com 5 crianças e mala da galera toda. Tentamos ajudar assim como os outros passageiros. Ainda sem saber por que os fulanos estavam "protestando" atravessamos o lugar e lá estava o outro ônibus. Embarcamos e continuamos a nossa viagem para finalmente chegar no Acre.
Doce ilusão a nossa de que seria tão simples. O ônibus pára de novo e o outro motorista repete as instruções. "Desçam, peguem suas malas, atravessem o protesto, do outro lado haverá um ônibus da empresa esperando por vocês." Dessa vez eram caminhões que bloqueavam a passagem e não havia festa nenhuma, muito pelo contrario estava tudo muito deserto, muito escuro e meu celular não pegava. (num tom bem de história de terror mesmo). Subimos no novo ônibus, o motorista liga o motor e pára de novo. O que houve? Os caminhoneiros atravessaram um caminhão na frente do nosso ônibus dizendo que ninguém iria passar até o dia seguinte. Agora ficou bom, né?
Os tais sujeitos saíram e deixaram o caminhão estacionado. Tiramos foto da placa, da empresa e os machões do ônibus resolveram empurrar o caminhão. Juro que essa idéia não parecia tão idiota na hora. Claro que eles não conseguiram. Tentamos achar um atalho, nada. Os caminhoneiros apareceram e resolveram discutir, adivinhem com quem? meu querido primo! Sim, eu estava numa estrada escura, na divisa entre o Acre e Rondônia brigando com caminhoneiros que mais pareciam personagens. Imagina um cara alto, com chapéu de cowboy, bigodão grisalho e uma voz grave e rouca. Estão, esse sujeito simpático que meu primo resolveu discutir. Meu sábio primo começou a gravar a conversa e ai que fomos entender: o primeiro protesto é pq há uma vila que queria virar uma cidade do acre, mas a justiça determinou que eles seriam uma cidade do estado de Rondônia. Mas o governo do Acre investe na cidade e o de Rondônia, não. A tentativa era de revogar essa decisão. Para isso bloquearam a única estrada que liga o Acre ao resto do país! Os caminhoneiros estavam presos ali há quase uma semana perdendo dinheiro, com carga estragando e ninguém resolvia o problema deles. Logo, resolveram criar um problema pra gente. Depois de ouvir varias ameaçar do sujeito fofo que descrevi acima meu primo que estava gravando tudo fechou o celular e falou algo como "Vamos ver se isso que vocês estão fazendo não é crime na justiça."



O caminhão que bloqueou a estrada



Saímos andando em direção ao orelhão enquanto os caras meio desesperados ameaçavam a gente. Tiraram o tal do caminhão enquanto eu suava frio, ouvia som de tiro na minha cabeça, imaginava meu primo morto numa estrada entre Rio Branco e Porto Velho. E sem celular.


Os caminhões bloqueando os caminhos alternativos

Sãos e salvos, graças aos nossos anjos da guardam, chegamos a Rio Branco mais cedo do que previsto e ficamos na rodoviária nada movimentada esperando nos buscarem. Minha mãe, meu padrasto e um motorista foram nos buscar. Fomos levados por eles para uma espécie de sítio, de um amigo do meu padrasto, onde nos hospedamos.

A cidade de Rio Branco
Cantinua...











Em construção

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